Ser filha de um pai alcoólatra me fez testemunhar desde cedo as consequências devastadoras dessa doença. A vergonha e o medo se misturavam em meu coração, distorcendo o conceito de amor e segurança que deveria existir numa relação entre pai e filha.
Crescer em um ambiente de dor, negligência e violência me fez desenvolver mecanismos de defesa contra a rejeição e o abandono. Aprendi cedo a não depender de ninguém e nem demonstrar facilmente minhas emoções. Com o tempo, deixei de lado a intenção de resolver minhas questões com meu pai. Eu acreditava que era melhor ignorar as feridas emocionais.
Mas aos 25 anos, um encontro com Jesus me confrontou. A caminhada com Cristo traz vida, mesmo ao que parece morto. No meu caso, a relação com meu pai. Saber do sacrifício de Jesus na cruz pelo perdão dos meus pecados me fez entender que perdoar é intencional e voluntário. Constrangida, comecei a orar pedindo a ajuda do Senhor para perdoar meu pai genuinamente. Esse processo foi difícil e envolveu muita resistência, durando 30 anos.
No fim desse processo, ele adoeceu gravemente. Ao encontrá-lo, percebi que eu já o havia perdoado. Nesse mesmo dia, apresentei-o a Jesus, e ele prontamente aceitou. Sua saúde se restabeleceu e convivemos por mais três anos. Criamos um relacionamento pai e filha, e cuidei dele até seus últimos dias no hospital.
O Senhor nos restaurou completamente. Nunca falamos sobre o passado e ele nunca me pediu perdão. Não tínhamos tempo para isso. Criamos memórias, nos curamos e deixamos de lado os ressentimentos. Perdoá-lo me permitiu conhecer o amor verdadeiro de Deus, testemunhar um milagre, reconciliar-me com minha família, honrar meus pais e experimentar a verdadeira liberdade em Cristo.
Sou muito grata ao Senhor por ter vivido todo esse processo. Só assim compreendi genuinamente a paternidade de Deus. Ele nunca machuca, abandona, rejeita ou falha com Seus filhos. Ele é perfeito em amor, compaixão e justiça.
Ao entender a obediência do perdão e do autoperdão, transbordamos o amor e cuidado do Senhor conosco e com as outras pessoas. Tornamo-nos protagonistas das nossas histórias e testemunhas para as histórias dos outros. Você precisa perdoar alguém? Te convido a pedir a ajuda de Jesus para isso, como eu fiz. Siga a Rede de Mulheres da IBB no Instagram: @mulheres.ibb
Mércia Machado