Calma! Em primeiro lugar, não estou querendo atualizar a Bíblia, ok?! Em segundo lugar, quero te convidar para refletirmos um pouco sobre o evangelho em nossos dias, à luz do padrão e vontade revelada de Deus.
Quando a gente pára e observa atentamente o tipo de cristianismo que estamos vivendo ou que estamos rodeados, será que isso nos causa estranheza, entusiasmo, temor, pena ou indiferença? Talvez para cada um de nós, algumas dessas reações podem ser a primeira resposta. Talvez outras tantas reações possam surgir e eu nem sequer conseguiria imaginar ou sistematizar. Mas pra ser bem sincero com você, eu tenho algumas reações e sentimentos que sinceramente lamento muito em tê-las. Ao me defrontar com o evangelho ou graça “barata” de nosso tempo, eu tenho vergonha e decepção do que contemplo. Não, não estou me achando melhor do que ninguém aqui! Mas ao olhar para o padrão estabelecido por Deus para a conduta do Cristão e para o que ele deve pensar e crer, eu vejo o quanto Deus tem deixado de ser o centro da vida de muitos que professam segui-LO.
Estamos comemorando 506 anos do retorno à verdade não distorcida e única, à centralidade de Cristo, à graça vicária, à fé sem barganha e à glória devida a Deus. Por milhares de anos isso foi cooptado por desejos egoístas, antropocêntricos e um festival de dogmas travestidos de piedade. A reforma protestante, iniciada em 31 de outubro de 1517, com Martinho Lutero, foi a tentativa de reformar o que estava errado com a igreja e trazê-la de volta à Palavra, entretanto a idolatria do poder, o culto ao ego e a falta de compromisso com o Corpo de Cristo levaram à ruptura da igreja, e não à adoração arrependida.
Mas seria ótimo se, pelo menos, nós estivéssemos vendo uma igreja protestante realmente comprometida com o evangelho puro e simples, obediente à vontade de Deus e que não se alia ou copia o padrão do mundo. Não meu amigo, não é isso que eu vejo em grande parte do mundo evangélico hoje. Por isso minha vergonha e decepção! Estamos vivendo dias em que a nova religiosidade é o culto do “ser”. Ser bem-sucedido, ser aceito como eu sou, ser ideologizado, ser politicamente correto, ser espiritualizado independente da fé que exige renúncia, ser amante de mim mesmo e muitos outros “seres” por aí.
As escrituras deixaram de ser o padrão de vida de muitos cristãos, que buscam muito mais orientação e apego nos gurus do “evangelho coach”, nas filosofias modernas e nos livros de auto-ajuda. A verdade que constrange, que fere o ego e que condena meus ídolos, agora deixou de ser importante. Posso até falar que amo as Escrituras, mas na verdade amo muito mais os mandamentos do prazer do que a Lei Santa e Eterna de Deus.
A graça foi barateada, achincalhada, desprezada e vendida pelos mercadores do evangelho pós-modernista. O presente imerecido do Senhor foi transformado em produto que eu tenho e posso comprar com minha performance, influência ou poder. Mergulho na psicologização do pecado, que rouba a necessidade do perdão e arrependimento para vender certos diagnósticos de transtorno A ou B, me transformando em uma vítima de uma sociedade que precisa “evoluir”. Eu não preciso mais ter fé ou talvez apenas uma fé, mas escolher os ítens que mais me agradam nas prateleiras das religiões, denominações ou igrejas. A fé somente não é algo atrativo ou “inclusivo”, porque eu sou um amante de mim mesmo (2 Timóteo 3.2).
Cristo é um cara legal, um grande guru do passado, que me ama e aceita como eu sou e que não está interessado em me julgar, mas só me abraçar em seus ternos braços de amor, sem preconceito ou verdade absoluta que fira minhas crenças, pois afinal, “eu sou o Seu ponto fraco”. Cristo também deixou de ser onipotente, onisciente e onipresente, pois como pode o mundo sofrer tanto e Ele ficar lá em cima só assistindo e não fazer nada a respeito?
E a glória? Seja minha, totalmente minha!
Nunca uma reforma foi tão necessária em nossos dias, não é? Tudo isso começa com pequenas e sutis distorções, que arrebatam nosso coração pela facilidade que oferecem e pela promessa de que você não é digno de sofrer. O Senhor Jesus, todavia, exalta uma vida de completa e única dependência Dele, independente do que venhamos a sofrer, mesmo que isso custe romper com aquilo que estamos adorando hoje. Sua Palavra não precisa ser atualizada, pois é mais atual que as notícias que sairão semana que vem; sua graça custou Seu sangue para que a recebêssemos gratuitamente; a Fé não é um ítem que posso montar e usar do jeito que eu quero, pois não há nada que preencha completa e eficazmente meu coração a não ser Cristo, e Este, Salvador Único e Suficiente na vida do ser humano, Deus Eterno, Poderoso e Supremo Senhor criador de todas as coisas, que julgará as nações com justiça e poder e que me recebe como estou, para que eu não seja mais o mesmo, imerso em meus pecados e vãs crenças, para que eu viva uma vida abundante e de esperança na eternidade, rendendo toda a glória a Ele! Somente a Ele!
Escrito por: Pr. Daniel C. Dauaidar